Troye Sivan – Bloom (2018)
Por Gabriel Sacramento
Ouvir Blue Neighbourhood em 2015 foi uma grata surpresa. Não é sempre que encontramos um pop que se orgulha da sua inocência e de sua falta de pretensão e consegue cativar o ouvinte. Senti o mesmo quando ouvi o segundo álbum do Shawn Mendes, Illuminate (2016). Naquele ano, Sivan conseguiu com cuidado dosar o eletrônico e o aspecto espacial do som, chegando a um pop sem exageros.
Bloom é uma continuação natural. Produzido por diversos nomes como Oscar Holter e Alex Hope, o disco novo continua exatamente onde o anterior parou, investindo na linguagem pop simples e atmosférica e em letras confessionais sinceras. No entanto, o segundo não possui o mesmo carisma que o anterior, e as canções soam pouco inspiradas e insípidas. Se existia algo em Blue que destacava o cantor, detalhes mínimos e bem específicos, Bloom restringe e foca nos grandes refrãos e em uma forma mais palatável de pop.
É como se o australiano quisesse chegar mais perto da galera do pop americano e, para isso, buscou alguns clichês que vão das estruturas das faixas às escolhas melódicas e harmônicas, deixando o disco genérico e pouco com sua cara mesmo. “Plum” é uma boa prova disso: investe em uma melodia fraca, pouco enérgica e não oferece alternativas ao ouvinte. Assim é também em outras como a faixa-título e “Seventeen” — que soa como uma versão bem ruim de algo do próprio Shawn Mendes. As canções são previsíveis e sempre batem na mesma tecla: seções iniciais mais lentas e refrãos climáticos e grandiosos.
“The Good Side” é um dos destaques, justamente porque não investe nos mesmos elementos das anteriores. É acústica e tem uma pegada folk bem interessante, deixando o ouvinte com vontade de ouvir mais do cantor nesse gênero. “Dance To This” é uma faixa dançante genérica, com uma Ariana Grande no automático, bem diferente da esforçada e corajosa de Sweetener, seu mais recente. Em termos instrumentais, também não há muito o que destacar: a base serve totalmente aos vocais, sem nenhum momento de inspiração acima do comum.
Aquilo que funcionou bem no primeiro álbum — a atmosfera, as eletronicidades e a inocência — são negligenciados nesse novo. Até mesmo a conexão entre as letras e a música se perdeu em algum momento, já que Bloom é caracterizado por escolhas musicais que combinam pouco com a proposta lírica dele. O cantor está claramente tentando uma atualização e lidar melhor com um público que, além dele, ouve outros 340 cantores pop em playlists do Spotify. No entanto, essa guinada claramente foi custosa ao brilho que sua musicalidade exalava.